O excesso de horas dos profissionais de saúde e agentes da segurança

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Gostaria de partilhar convosco uma reflexão sobre as cargas horárias contínuas dos profissionais da saúde e da segurança.

Recentemente estive internado. Muito graças ao meu subsistema de saúde foi-me proporcionado o acesso a um hospital privado.

Pude no entanto constatar que nesse estabelecimento hospitalar (actualmente uma referência no sector) os profissionais de saúde, em particular os enfermeiros e auxiliares, efectuam cargas horárias que alternam entre as 12 e as 15 horas diárias de serviço contínuo, em vários dias seguidos.

Não tenho qualquer razão de queixa quanto à forma como fui tratado. Aliás, aproveito para deixar aqui um louvor a esses profissionais, são uns heróis, pois custa a crer como será humanamente possível manter um sorriso e uma palavra de apoio desde o inicio do turno até ao seu final, 15 horas depois.

Todavia, é minha convicção que esta carga horária afectará em muito o discernimento e a concentração necessárias para se um destes profissionais for confrontado com um problema grave; daqueles em que a solução tem de surgir numa fracção de segundo. Nesse caso, é possível que surjam as negligências, sempre difíceis de provar neste sector.

Por muito treinados que estejam, por muito capacitados sejam, são humanos! E o ser humano tem limites.

Outra constatação que efectuei é que na maioria dos casos deixou de ser uma preocupação o uso das luvas de protecção; mesmo quando existe a necessidade de manusear matéria orgânica como p.e., o sangue que como se sabe pode transmitir doenças crónicas. Será por uma questão de redução de custos? Ou por excesso de confiança dos profissionais?

No entanto, não são só os profissionais de saúde a efectuar longos turnos durante vários dias. Esta também é uma das irregularidades que encontramos nas escalas dos Agentes da PSP, dos Militares da GNR, dos Inspectores da PJ, dos Bombeiros e dos Agentes de Segurança Privada.

A exemplo dos profissionais de saúde, nos casos agora mencionados o discernimento e a capacidade de reacção também são vitais para um cabal desempenho das missões que estão atribuídas aos profissionais da segurança.

Certamente existem estudos que comprovam que o excesso de horas em dias contínuos é um dos motivos de alguma da violência policial que ainda se vê referida em relatórios internacionais; como também será de algumas das falhas de procedimentos perante situações de risco. No caso dos Inspectores da PJ o raciocínio, tão importante na investigação criminal, será também tolhido pelo cansaço do excesso de horas de turno.

Todos sabemos que as profissões supracitadas têm, necessidades e períodos de trabalho que têm de ser pontualmente prolongados, são os chamados “ossos do ofício”. O aqui referimos são condições diferentes. É o facto dos profissionais destes sectores de actividade efectuarem, continuadamente, escalas de mais de 12 horas em diversos dias seguidos.

As situações mais graves que conhecemos são dos Bombeiros. No caso dos Voluntários pode acontecer que depois de uma noite de piquete no quartel (ainda que nem sempre com saídas em serviço), vão directos cumprir um horário de 8 horas nos seus empregos e, em alguns casos, ainda vão, dentro das mesmas 24h, fazer um turno no CODU ou nas ambulâncias do INEM.

Esta forma de preencher escalas é inseparável de factores que servem quase todos os intervenientes:
– No caso das entidades patronais, conseguem, com menos mão-de-obra, efectuar o mesmo serviço, ainda que correndo os riscos próprios dessa decisão;
– Aos profissionais, o acumular de horas diárias permite folgas maiores, mas que não representam exactamente um maior descanso, dado que essas folgas, na maioria dos casos, são aproveitadas para desempenhar outras actividades profissionais que complementam salários auferidos.

Ou seja, parece que todos ganham, mas não! Há os que podem perder! O cidadão comum que espera e necessita que estes profissionais estejam sempre no pleno das suas faculdades quando estão de serviço e isso nem sempre acontece.

Do ponto de vista político-social (que recusamos discutir aqui), esta parece ser uma situação aceite e do agrado de todos, mas fica sempre a questão:
– Estará garantida a segurança e o bem-estar dos que precisam destes profissionais, quando estes estão sujeitos a estas cargas horárias?

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Júlio Santos

Júlio Santos

Desde 1985 ligado à segurança. Inicialmente na comercialização de equipamentos de prevenção de riscos elétricos. Posteriormente especializa-se em monitorização e operação de sistemas de segurança integrados e organização de Centrais de Segurança. Para partilhar, com os profissionais do setor, os conhecimentos adquiridos, cria e gere desde 2006 o primeiro site, sem fins lucrativos e/ou comerciais, sobre Segurança Patrimonial da internet com origem em Portugal. Participa com artigos de opinião em diversas publicações do setor.

Um comentário em “O excesso de horas dos profissionais de saúde e agentes da segurança

  1. Infelizmente, o número excessivo de horas de trabalho não fica por esses profissionais. Também os técnicos de segurança no trabalho padecem desse mal.
    Como o número de técnicos necessários numa empresa, apenas é contabilizado pelo número de trabalhadores da empresa, a sobrecarga pode ser excessiva. Por exemplo, na construção onde as empresas podem ter poucos trabalhadores, mas muitos subempreiteiros, duplicando ou triplicando o número de trabalhadores a cargo de um técnico. Um número ilimitado de obras para acompanhar, que mesmo sendo de orçamento reduzido tem as mesmas exigências que obras de grande valor monetário.
    Desta forma, temos técnicos a trabalhar diariamente 10 e 12 horas, ou até mais… 5 ou mais dias por semana.
    E assim vai o nosso país…

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