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Stress relacionado com o trabalho: muita conversa e pouca ação

A palavra Stress está ligada a “stringere”, cujo significado é “esticar” ou “deformar” e se associa portanto ao conceito de “tensão”. De facto, frequentemente as designações “tensão”, “aperto”, “pressão” e “carga” (ou “sobrecarga”) são utilizadas como sinónimos de stress.

Em ambiente de trabalho é, quase sempre, o stress (relacionado com o trabalho; profissional ou ocupacional) que nós associamos ao seu ambiente psicossocial. Claro que existem inúmeros outros riscos profissionais de natureza psicossocial dos quais, nos nossos dias, o burnout é, talvez, senão o mais visível, o mais falado em determinadas profissões e/ou atividades profissionais.

O stress configura, quase sempre, uma situação de desarmonia entre as necessidades do indivíduo e as exigências do trabalho, ainda que existam muitas outras teorias explicativas da sua etiologia.

Em Saúde e Segurança do Trabalho (SST) a abordagem dos fatores de risco profissionais, na perspetiva da sua prevenção, tem-se centrado essencialmente nos factores de risco tradicionais, como são o exemplo das substâncias químicas ou dos agentes físicos. Tal abordagem conduz (ou “arrasta”) a nossa atenção para o ambiente de trabalho na perspectiva tradicional, desvalorizando os aspectos psicossociais, por exemplo, relacionados com a organização do trabalho ou as interacções (verticais ou transversais) entre colegas de trabalho e chefias ou o trabalho de equipa.

Tal tem determinado uma total desarmonia entre a importância dada aos factores de risco psicossociais e as acções concretas que as empresas entendem dedicar a tal matéria. E quando dedicam alguma atenção concentram essa atenção, no essencial, na imagem do trabalhador “todo-o-terreno” que há alguns anos resolvi adotar, como “representação”, para me referir ao investimento na resiliência dos trabalhadores.

Kompier e Levi (1994), a esse respeito, propõem a metáfora do “pé e do sapato” (o pé = o trabalhador; o sapato = o posto de trabalho) para as respostas de “coping” do stress, centradas no indivíduo, no trabalho ou em ambos: (i) “procurar o sapato certo para o pé certo” (ii) “adaptar o sapato ao pé”; e (iii) “fortalecer o pé para se adaptar ao sapato”. É um modelo interessante, que nos chama a atenção para se investir também, se não essencialmente, na resiliência das organizações. Dito de outra forma, há que investir no “pé” e no “sapato” se pretendermos um melhor ambiente psicossocial no trabalho.

Quase toda a nossa atenção se tem centrado no “pé” (leia-se trabalhador) mesmo que, caricaturalmente, o sapato (posto de trabalho) seja número 44 para um pé 39 … É a anciã perspetiva do trabalho imutável e da “seleção” de trabalhadores para esse trabalho. Essa é uma perspetiva, e mesmo assim clássica e pouco adequada, das organizações de admissão de recursos humanos (leia-se “pessoas”) e não das organizações que se dedicam à prevenção dos riscos profissionais, à promoção da saúde e à manutenção da capacidade trabalho que é o que é suposto que a SST faça.

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Bibliografia

KOMPIER M, LEVI L. Stress at Work: Causes, Effects and Prevention. Dublin: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 1994.

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António de Sousa Uva

António de Sousa Uva

Médico do Trabalho, Imunoalergologista e Professor Catedrático de Saúde Ocupacional.

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