lesoes musculo esqueleticas

As Lesões Músculo-esqueléticas relacionadas com o Trabalho (LMERT) – o que são? Como Prevenir?

As lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho(LMERT) são atualmente consideradas como um problema de saúde ocupacional cuja ausência de controlo médico mas também de intervenção da área da segurança e saúde no trabalho (avaliação das tarefas desempenhadas no trabalho, aplicação das medidas correctivas e preventivas adequadas e verificando a sua eficácia) pode acarretar disfunções, incapacidades e comorbilidades a título definitivo provocando desconforto e uma débil qualidade de vida ocupacional, mas também social, pessoal e familiar.

As perturbações músculo-esqueléticas são uma das causas mais importantes de baixa por doença, tanto na Europa como em Portugal.

De acordo com a OMS, aproximadamente 1,71 bilhão de pessoas no mundo têm distúrbios musculoesqueléticos, sendo a dor lombar a mais comum, com 568 milhões de pessoas afetadas.

Em Portugal estima-se que 5,9% dos trabalhadores padecem de LMERT com lesões clinicamente relevantes (Dr. Luís C. Miranda e Professor Jaime Branco – estudo apresentado pelos autores nas XVII Jornadas Internacionais do Instituto Português de Reumatologia). Segundo o mesmo estudo dos referidos autores, a lesões mais prevalentes foram as lombalgias 38,4%, seguidas das cervicalgias com 19,2% e dorsalgias com cerca de 13,9% das raquialgias detetadas. As restantes lesões, circunscrevem-se aos membros superiores com prevalência das tendinites do ombro com cerca de 0.6%. Em jeito de síntese diríamos que a coluna vertebral é responsável por mais de 74% das patologias músculo-esqueléticas.

As lesões músculo-esqueléticas (LMERT) são na sua essência caracterizadas como um conjunto de patologias que afetam os nossos músculos, tendões, ligamentos, articulações, nervos, discos vertebrais, cartilagem, vasos sanguíneos ou tecidos moles associados e que podem ser causadas ou agravadas fundamentalmente pelo tipo de trabalho realizado, pelo ambiente em que se realiza, duração das tarefas relacionadas numa ótica de intensa repetitividade (construção civil, metalomecânica, indústrias têxteis, indústrias de componentes eletrónicos, indústrias de componentes automóveis, trabalhos com hiperconectividade computacional e outros dispositivos eletrónicos, trabalhos de limpeza e manutenção, setor dos transportes, entre outros de carácter repetitivo e com poucas ou nenhumas pausas.

Estas lesões são na sua maioria caracterizadas por apresentarem um quadro de dor, de desconforto funcional e em último recurso pela perda de força muscular, dormência, parestesias, hipoestesias entre outras patologias que vão limitar (temporariamente ou até definitivamente na maioria dos casos), as atividades profissionais dos trabalhadores e, como acima abordamos, também a sua participação ativa na sociedade.

Alguns dos distúrbios mais comuns relacionados com as LMERT são:

  • Tendinite do manguito rotador;
  • Epicondilite;
  • Síndrome do túnel cárpico;
  • Dor lombar, cervical e dorsal;
  • Lesões músculo-esqueléticas dos membros inferiores: bursites e entorses;
  • Síndrome cervical por tensão, entre outros caracterizados pela medicina ocupacional e ergonomia no trabalho.

Estas perturbações de carácter multidimensional e multifatorial, podem ser causadas por uma variedade de factores de risco, incluindo fatores físicos (iluminação, ambiente térmico, ruído, vibrações, etc.) e biomecânicos, fatores organizacionais (sobrecarga ou subcarga laboral, presentismo e desvalorização socioprofissional, circuito de informação e comunicação, tipologia de liderança, etc.) e, nos últimos tempos fruto da massificação das tecnologias da informação e comunicação e dos novos hábitos de vida, por fatores psicossociais (que podem levar ao surgimento de quadros de stress, fadiga, ansiedade) e factores individuais.

E quanto à Prevenção:

A prevenção deve começar pelo exemplo dos executivos e gestores de topo das organizações em reconhecerem que este tema é um flagelo para a saúde do indivíduo (ocupacional e pública) e que deve haver uma forte aposta nas áreas da segurança e saúde, da ergonomia e da medicina ocupacional. Aliás é um imperativo legal plasmado nas alíneas g) e h) do nº2 do artigo 15º da Lei 3/2014 de 28 de Janeiro “adaptação do trabalho ao homem, especialmente no que se refere à conceção dos postos de trabalho, à escolha de equipamentos de trabalho e aos métodos de trabalho e produção, com vista a, nomeadamente, atenuar o trabalho monótono e o trabalho repetitivo e reduzir os riscos psicossociais e adaptação ao estado de evolução da técnica, bem como a novas formas de organização do trabalho”.

Existe uma multiplicidade de estratégias e ações que podem e devem ser equacionadas na prevenção destas patologias, como por exemplo:

  • Programas de prevenção com alterações de configuração ergonómicas a nível do posto de trabalho (avaliação antropométrica, iluminação, ruído, cor, disposição do layout, interação funcional e organizacional, uso de equipamento para trabalhar, conforto térmico, entre outras valências);
  • Programas na organização que promovam correções posturais;
  • Programas de ginástica laboral, exercícios de alongamento e fortalecimento muscular e pausas ativas;
  • Visitas regulares do ergonomista e do médico do trabalho aos postos de trabalho em articulação com os técnicos de segurança e saúde no trabalho;
  • Informação assertiva sobre os perigos, os riscos por ausência de uma política ergonómica e as medidas facilitadoras;
  • Criar procedimentos que limitem por exemplo o levantamento e o transporte de cargas acima de determinado valor.

Muito se pode e se deve fazer para melhorar a qualidade de vida no local de trabalho promovendo um ambiente mais seguro, mais agradável, mais confortável e mais potenciador de vida, de relacionamento e de produtividade e desempenho.

Assim haja vontade!

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António Costa Tavares

António Costa Tavares

Técnico Superior de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho Docente, formador e consultor em matéria de SST e Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho Quadro da Câmara Municipal de Cascais Membro da Comissão de Trabalhadores da CMC

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