Promoção da Saúde vs. Promoção da Saúde e Segurança do Trabalho

O Trabalho tem sido um fator determinante do desenvolvimento económico e social e a salubridade dos ambientes de trabalho há séculos que constitui um fator relevante em matéria de saúde e bem-estar das populações. A Saúde e a Segurança dos Trabalhadores (SST) nos locais de trabalho, incluindo a Promoção e a Proteção da Saúde podem, por isso, constituir um importante fator de desenvolvimento económico e social.

Qualquer que seja o modelo conceptual a abordagem prática dos aspetos relativos às (inter)relações trabalho/saúde(doença) reside sempre no conhecimento dos fatores profissionais em jogo e das respetivas repercussões sobre a saúde dos trabalhadores. Tal abordagem exige ainda o conhecimento aprofundado das variáveis individuais dos trabalhadores que interagem com os diversos elementos das situações de trabalho, e que delas fazem parte integrante, quer nos aspetos de adversidade (os mais frequentes), quer nas dimensões do conforto ou do bem-estar (quase sempre esquecidas).

Independentemente da perspetiva, o binómio trabalho/saúde(doença) deve merecer mais atenção por parte de todos nós, através de um maior investimento da sociedade na proteção da saúde de quem trabalha e na promoção da sua saúde. Investimento e não custo, como muitas vezes é encarada, a SST é uma componente essencial do desenvolvimento e do crescimento económico, devendo ser encarada como motor (e não como obstáculo) ao desenvolvimento e ao crescimento sustentado da sociedade.

As estratégias de intervenção em SST mais prevalentes assentam, quase sempre, nas dimensões ambiental (Higiene e Segurança do Trabalho) e individual (Medicina do Trabalho) e, mesmo nessas, essencialmente na avaliação e gestão do risco relacionados com fatores de risco químicos, físicos e, muito menos, microbiológicos, psicossociais ou relacionados com a atividade.

Interessa por isso re-inventar novas abordagens das relações entre a saúde (na sua acepção mais ampla) e o mundo do trabalho valorizando mais a saúde dos trabalhadores do que a Saúde Ocupacional em sentido estrito (e hoje corrente), de modo a dar maior importância ao trabalho como agente promotor de saúde e caminhando, dessa forma, para abordagens que se situem para além dos fatores (profissionais) de risco. Para além, implica ainda que a promoção da saúde não se confine à escolha individual de hábitos e estilos de vida e inclua sempre um local de trabalho livre de fatores de risco de natureza profissional ou, pelo menos, locais de trabalho com uma boa gestão dos riscos profissionais …

… e isso pouco tem a ver com a promoção da SST que é outro assunto, igualmente importante, que alguém, por certo involuntariamente, se encarregou de “adulterar”. Dito de outra forma, a Promoção da Saúde no Local de Trabalho tem tanto a ver com a Medicina do Trabalho como a Ergonomia, a Psicologia do Trabalho, a Sociologia do Trabalho, a Higiene e Segurança do Trabalho, a Enfermagem do Trabalho ou qualquer outra área científica que aborde, na sua área concreta, aspetos daquelas inter-relações entre o trabalho e a saúde (ou a doença). Tal significa que é feita por profissionais com diferenciação nessa área e com recurso às metodologias próprias dessa área e deve “emoldurar-se” numa perspetiva salutogénica e não patogénica ou até de prevenção de riscos.

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António de Sousa Uva

António de Sousa Uva

Médico do Trabalho, Imunoalergologista e Professor Catedrático de Saúde Ocupacional.

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