Do assédio ao isolamento: a importância de gerir riscos psicossociais

Quando se fala em riscos psicossociais no trabalho, a primeira ideia que surge é quase sempre o stress. Contudo, os riscos que afetam a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores vão muito além disso. Fatores como o assédio, a pressão constante de prazos, o isolamento social ou a falta de reconhecimento podem ser igualmente prejudiciais, comprometendo a motivação, a produtividade e a própria sustentabilidade das organizações.

O que são riscos psicossociais?

De acordo com a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, os riscos psicossociais resultam da forma como o trabalho é concebido, organizado e gerido, bem como do contexto social em que ocorre. Estes riscos podem originar problemas físicos e psicológicos, como ansiedade, depressão, esgotamento, doenças cardiovasculares e perturbações do sono.

Para além do stress: exemplos de riscos psicossociais

Assédio moral e sexual

O assédio é uma das formas mais graves de risco psicossocial. Pode assumir diferentes formas, desde comentários depreciativos, isolamento propositado de um colaborador, até situações de intimidação ou assédio sexual. Para além das consequências emocionais devastadoras, o assédio gera climas de desconfiança e reduz a coesão das equipas.

Pressão de prazos e excesso de carga de trabalho

Ambientes em que prevalecem metas irrealistas, falta de recursos ou exigências constantes de disponibilidade levam ao desgaste progressivo dos trabalhadores. A pressão excessiva pode resultar em erros, absentismo e, a longo prazo, burnout.

Isolamento social

Com o crescimento do teletrabalho, o isolamento tornou-se um risco cada vez mais relevante. A ausência de contacto presencial, a dificuldade em separar vida profissional e pessoal e a sensação de “desconexão” da equipa podem afetar a motivação e aumentar sentimentos de solidão.

Falta de reconhecimento e participação

Trabalhadores que não se sentem valorizados ou incluídos nos processos de decisão tendem a apresentar menor satisfação profissional, o que aumenta o risco de rotatividade e reduz a produtividade.

Insegurança laboral

A perceção de instabilidade no emprego — como contratos precários, medo de despedimento ou mudanças frequentes — é outro fator que gera ansiedade e compromete o bem-estar.

Consequências para trabalhadores e empresas

Os riscos psicossociais têm impacto direto na saúde mental e física dos colaboradores, mas também nas organizações:

  • Aumento de absentismo e rotatividade.
  • Maior número de erros e acidentes de trabalho.
  • Clima organizacional negativo, marcado por conflitos e desmotivação.
  • Perda de reputação externa, dificultando a atração e retenção de talento.

Estratégias de prevenção e gestão

A nível organizacional

  • Políticas claras contra o assédio: estabelecer códigos de conduta, canais de denúncia confidenciais e tolerância zero a comportamentos abusivos.
  • Gestão equilibrada de prazos e tarefas: definir metas realistas, adequar recursos às exigências e promover a organização do trabalho.
  • Promoção do contacto social: em contextos de teletrabalho, incentivar reuniões de equipa, momentos de partilha e iniciativas de integração.
  • Reconhecimento e valorização: criar mecanismos para premiar o esforço e incluir os trabalhadores na tomada de decisões.
  • Formação e sensibilização: capacitar líderes e equipas para identificar riscos psicossociais e saber como agir.

A nível individual

  • Autoconhecimento: identificar sinais de ansiedade, exaustão ou isolamento e pedir apoio atempadamente.
  • Equilíbrio vida-trabalho: estabelecer limites entre horários profissionais e pessoais.
  • Apoio psicológico: recorrer a acompanhamento especializado sempre que necessário.
  • Criação de redes de suporte: manter contacto com colegas, amigos e família como forma de reduzir a sensação de isolamento.

O papel da tecnologia

Plataformas digitais, como as desenvolvidas pela SafeMed, podem ajudar as empresas a monitorizar indicadores de risco, recolher feedback dos colaboradores e implementar planos de ação mais eficazes. A tecnologia, quando bem utilizada, facilita a deteção precoce de problemas e o acompanhamento contínuo da saúde ocupacional.

Conclusão

Os riscos psicossociais são uma realidade complexa e multifacetada, que vai muito além do stress. Assédio, prazos excessivos, isolamento e falta de reconhecimento são fatores que podem comprometer seriamente o bem-estar dos trabalhadores e a saúde das empresas. Prevenir e gerir estes riscos exige uma abordagem integrada, que combine políticas organizacionais claras, práticas de gestão responsáveis, envolvimento dos trabalhadores e, sempre que necessário, apoio especializado.

Valorizar a saúde mental no local de trabalho não é apenas uma questão de responsabilidade social — é também uma estratégia essencial para garantir equipas motivadas, resilientes e produtivas.

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