Há cerca de 3 ou 4 semanas, por cá, estamos ancorados em 9.000 a 10.000 casos diários mas, agora, com um índice de transmissibilidade já acima de 1. No entanto, ninguém se importa muito já que a pressão nos hospitais (e em outras unidades de saúde é “light”) que, de facto, é o verdadeiro motor da luta contra a pandemia, ainda mais com os dados de mortalidade “desinflamados” em cidadãos mais vulneráveis. Também a nível mundial a incidência parece estar, consistentemente, a “desinflamar”, com cerca de metade da população (mais ou menos) vacinada, ainda que o continente Africano apresente muito baixas taxas de vacinação.
As máscaras desaparecem no final desta semana, num quadro de mais de 90% da população vacinada e de uma prevalência da doença superior a 1/3 da população a que poderá corresponder cerca de metade da população que já contactou naturalmente com o vírus. Tais dados determinam por certo alguma dificuldade na circulação comunitária do SARS-CoV-2, como de resto se vem objectivando num número já significativo de países.
No mundo já passa dos 500 milhões de casos e mais de 6 milhões de mortes por (ou com) COVID-19.
Se uma nova variante “agressiva” e que “finte” a imunidade adquirida (natural ou artificialmente) não vier a modificar o actual desenrolar da pandemia, tudo leva a crer que, brevemente, o vírus se tornará endémico. Cessa por isso, julgo, o apelo de cidadania que determinou as muitas dezenas de “migalhas” destes textos que foram concebidas como um diminuto contributo para melhor lidar com a situação de Saúde Pública e, quiçá, esta possa mesmo ser uma das derradeiras reflexões publicadas.
O que fica por realizar é um maior investimento do país em formas mais organizadas de lidar com problemas de saúde da nossa população que se situem para além da saúde individual de cada cidadão. Se todos entendemos que a saúde de cada um dos cidadãos é muito importante, seria desejável que o país aprendesse a investir mais na área da Saúde Pública, reiteradamente negligenciada e hipovalorizada nas políticas públicas de Saúde. Não terá sido a pandemia suficientemente impactante para determinar um maior investimento nessa área?
António de Sousa Uva, Médico do Trabalho, Imunoalergologista e Professor Catedrático de Saúde Ocupacional
Lisboa, 22 de abril de 2022
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