Abordar hoje a questão dos riscos psicossociais é mergulhar no clima organizacional das empresas e instituições, sejam elas de cariz privado, quer do foro da Administração Pública, numa dimensão interdisciplinar da gestão de recursos humanos, procurando identificar situações passíveis de diagnosticar entropias no que respeita à existência (não limitativa) de 4 patamares inter-relacionados e interdependentes da gestão e da segurança e saúde no trabalho:
– Stress laboral
– Fadiga mental
– Violência no local de trabalho
– Trabalho noturno e/ou por turnos
Existem muitas definições de riscos psicossociais. Podemos concetualizar como riscos psicossociais relacionados com o contexto laboral (uma vez que, não se reduzem apenas ao posto de trabalho sendo mais abrangentes cujas variáveis complexas a montante induzem alterações nos indivíduos), como um conjunto de reações emocionais, psicológicas (comportamentais) e fisiológicas/biológicas a determinadas situações (laborais e extra laborais) que são percecionadas pelo sujeito como desconfortáveis, adversas e até deletérias para a sua saúde e bem-estar enquanto trabalhador/indivíduo.
Essas situações, nem sempre claras e medíveis, têm no entender do trabalhador, potencial para causar danos somáticos, psicológicos, emocionais e sociais, conduzindo para quadros de depressão e ansiedade.
O stress é talvez dos riscos psicossociais, aquele que tem sido mais abordado nas últimas décadas. Diz respeito a um estado acompanhado de queixas contínuas que provocam a médio e longo prazo disfunções (físicas, psicológicas, fisiológicas, emocionais e sociais) face a estímulos internos e externos que resultam na incapacidade do trabalhador em alcançar determinados metas que lhe foram impostas (quer externa, quer também objetivos pessoais por ele traçados e inatingíveis por esta ou outra razão).
Os efeitos do stress, podem manifestar-se desde situações fisiológicas, (dores músculo-esqueléticas por exemplo), a problemas psicológicos (concentração, atenção, perceção, etc) e situações comportamentais (agressividade, passividade, alheamento emocional, etc).
Entre os principais agentes Stressores (objetivos → Oriundos do meio externo, subjetivos → Provenientes do meio interno) temos a sinalizar os seguintes (não exaustivos):
- Trabalho sem grande reconhecimento funcional;
- Trabalho monótono e repetitivo e entendido como desvalorizado;
- Ritmo (além/aquém) da capacidade do trabalhador;
- Ambiente físico (open-space, iluminação deficitárias, desconforto térmico, ar denso e “pesado”, odores desconfortáveis, ruído incomodativo, entre outros);
- Relacionamento interpessoal (horizontal e vertical);
- Grau de autonomia (ou não) em que exerce a sua função;
- Problemas relacionados com a rede de suporte familiar e/ou social;
- Organização e programação da sua jornada laboral (consentida versus ordenada);
- Pressão para alcançar resultados, ambíguos e pouco esclarecedores;
- Problemas psicobiológicos que limitam e fragilizam a confiança enquanto sujeito;
- Entre outros externos e/ou internos à esfera do trabalhador/sujeito.
No que concerne à fadiga, outra grande causa de riscos psicossociais, temos a salientar a questão da fadiga mental (grande exigência sobre o trabalhador, nomeadamente do foro cognitivo), contribuindo para a diminuição da sua capacidade racional de raciocínio após a realização de certos trabalhos num determinado período de tempo.
Esta dimensão da fadiga pode ter como génese (de entre outras variáveis exógenas ao trabalho):
- Sobrecarga de trabalho (quantitativa → Excesso de trabalho ou ritmo acelerado; qualitativa → Trabalho muito exigente em que o indivíduo sente que não consegue corresponder física e mentalmente ao que lhe foi solicitado, sente que não tem uma capacidade racional de corresponder);
- Subcarga de trabalho (quantitativa → O trabalhador sente que desempenha algo aquém das suas potencialidades, dos seus estudos, das suas competências, do investimento que fez em si (ou que lhe fizeram anteriormente), considera-se enquadrado num quadro funcional depreciativo do ponto de vista da exigência que ele considera não haver; qualitativa → O trabalhador sente que o que faz está esvaziado de importância, rondando o trabalho monótono e desinteressante).
Passamos agora a retratar a terceira dimensão: a violência ou mobbing laboral. Esta está retratada juridicamente no código penal (artigo 154) e legislada no código do trabalho (artigo 29). Quando debruçamos sobre esta matéria complexa e de contornos pouco visíveis (mais sentido pelo queixoso), estamos indubitavelmente a falar num comportamento de outrem, de forma reiteradamente persecutório e reprovado eticamente, provocando desconforto, medo, inquietação e intimidação ao trabalhador, conduzindo-o a quadros de baixa autoestima e desinteresse pela vida. Estas condutas estão claramente na antecâmara de situações de stress prolongado (resistência e Burnout) se, não houver rápida intervenção interpluridisciplinar por quem de direito. O assédio pode manifestar-se por fonte interna da organização (entre colegas, chefias do mesmo serviço) ou externamente (munícipes, clientes e ouros utilizadores do serviço onde o presumível assediado presta serviço).
A terminar esta reflexão pela psicossociologia laboral, temos a 4ª dimensão. Prende-se com o trabalho noturno e por turnos. Entramos aqui com a variável das alterações crono biológicas, alterações do sono e alterações da vida laboral e/ou social do trabalhador. Esta questão da cronodisrrupção acarreta psicobiologicamente problemas aos trabalhadores. O facto de o trabalhador no exercício das suas funções e, sob estímulos (luzes), de noite, estar a trabalhar, ele encontra-se continuamente a produzir corticoides, estes fazem com que, haja uma estimulação do sistema nervoso central, encurtando estádios posteriores de descanso, de relaxe e de sono (desregulação e fragmentação do sono em período diurno).
Estas situações de disrupção da crono biologia provocam:
- Envelhecimento;
- Precoce;
- Ansiedade;
- Agressividade;
- Depressão;
- Perturbações digestivas;
- Perda de apetite;
- Desregulação sexual;
- Instabilidade emocional e social.
A questão dos turnos, além de envolverem as consequências acima referidas (e não exaustivas), acarretam também condicionalismo a nível social e familiar, uma vez que, o trabalhador se sente “ausente” no acompanhamento dos filhos, no cumprimento de deveres familiares bem como, dificilmente poderá inserir-se em estruturas de suporte social, cultural e desportivo entre outras, dadas as suas dificuldades em compatibilizar o eixo trabalho – família – tempo de lazer – tempo social. O trabalho por tunos e noturno promove desorganizações várias, alterando as regulações entre a vida familiar, social e laboral.
Estes 4 patamares (não exaustivos reforce-se) aqui explanados do foro psicossocial, terão (dependendo caso a caso) uma influência nefasta para a saúde biológica, psicológica, emocional e fisiológica do trabalhador, cujo efeito sistematizador atingirá outros públicos e, tornarão a relação interpessoal e o clima organizacional, social e familiar mais denso e mais conflituoso, manifestando-se em quadros de insatisfação socioprofissional, stress laboral e fadiga física e mental.
Estas manifestações num quadro entrópico e disfuncional do sujeito, é sistémico e requer claramente a intervenção da gestão de recursos humanos, da segurança e saúde no trabalho e da medicina ocupacional.
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