Em 2 de fevereiro passado (2021) num destes textos escrevia “… O que se tem passado com as vacinas contra a COVID-19 é talvez um pouco bizarro. Claro que se pensarmos em critérios controláveis, esses critérios devem ser simples e escrutináveis e o melhor moldados que for possível ao conhecimento da história natural da doença. Nessa perspectiva é difícil arranjar um critério melhor do que a idade porque tem essa relação muito bem estabelecida e demonstrada, quer na gravidade da doença, quer na letalidade. E desde que existem registos civis, também está disponível numa sólida e segura base de dados nacional, perfeitamente perscrutável por quem tenha acesso a essa informação para esses fins concretos …”.
Felizmente o critério idade veio a ser adoptado e tal estratégia “gold standard” afastou, por exemplo, o que já alguém denominou fenómeno “gorda fura-filas”. Também o desenvolvimento da plataforma de agendamento por iniciativa dos cidadãos e a desburocratização do local de vacinação foram verdadeiras “enzimas” do aumento da taxa de vacinação. Com maior ou menor “turbulência” esse processo tem, no essencial, acompanhado a actual disponibilidade da “matéria-prima”.
Hoje, num noticiário televisivo da hora do almoço, oiço que os cidadãos com quarenta ou mais anos já se podem inscrever na plataforma (antes seriam os quarenta e três anos). Conhecendo a história natural da COVID-19, os determinantes de mau prognóstico associado à (possível) previsibilidade de menor adesão dos grupos mais jovens à vacinação e a familiaridade com as tecnologias informáticas não seria mais sensato dar a possibilidade de todos os maiores de dezoito anos poderem, desde já, agendar a sua imunoterapia especifica? O conhecimento da actual situação pandémica (em crescendo) não aconselharia tal medida?
Tal poderia ou não determinar que, por exemplo, trabalhadores com risco geral acrescido ocupacional se vacinassem mais cedo? Refiro-me, por exemplo, a motoristas de autocarro, trabalhadores de estabelecimentos de bens essenciais ou empregado(a)s de venda a retalho de combustíveis. Poderão esses factores contribuir (ou mesmo determinar) maior procura da vacinação por parte dos cidadãos mais jovens?
Ou ainda, por exemplo, que a situação pandémica por região geográfica também possa constituir um aspecto que possa influenciar a opção individual de se vacinar?
Não deveriam as autoridades de saúde estimular estratégias de comunicação promotoras de adesão à vacinação nesses grupos (ou nessas situações) com risco acrescido potencial? A task force da vacinação tem revelado não só uma dedicação completa à sua missão mas ainda uma boa capacidade de adaptação contínua a medidas que “persigam” o que se pretende e não a “burocratização” de um processo (o enfoque é feito nos aspectos substantivos e não nos formais o que é uma verdadeira – e boa – novidade entre nós). A actual sugestão poderia ou não enquadrar-se nesse desiderato?
Quero crer que as vantagens são muito maiores que as desvantagens. E não tem sido esse o principal princípio das estratégias adoptadas no combate à pandemia? A expectativa (e a minha convicção) é que ganharíamos todos com isso.
Lisboa, de 15 de junho de 2021
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